segunda-feira, 11 de maio de 2009

Uma mãe que a gente admira

"Ayelet Waldman é seu nome: escritora, 44 anos, formada em direito por Harvard (da mesma turma do Obama), casada com o romancista Michael Chabon, quatro filhos. Em 27 de março de 2005, publicou um artigo no New York Times que a fez padecer num inferno. Tema: a maternidade. Mas sem as chorumelas de praxe. E com esta confissão formidável: 'Se uma boa mãe é aquela que ama os filhos mais do que a qualquer outra pessoa no mundo, então eu não sou uma boa mãe, pois gosto mais do meu marido que dos meus filhos'.

Madre de Dios! Per la Madonna! O artigo era sobre o que é ser mãe - e suas inconveniências.

Ao enfiar em público a carapuça de bad mother (de resto, sem razão, já que ela tem um relacionamento comprovadamente intenso e carinhoso com os filhos), Ayelet cutucou um vespeiro. Onde já se viu uma mãe gostar menos dos filhos que do marido? Se isso não vai contra a natureza, contra o senso comum vai - e como! Principalmente no país do 'momism' (a variação pop do complexo de Édipo), da Stella Dallas, da Mildred Pierce, da 'little Mammy' do Al Jolson e demais 'jewish mothers'.

Mães histéricas de todas as idades passaram a perseguir Ayelet e hostilizá-la, nas ruas, em cafés, restaurantes e supermercados, por telefone e e-mail, como se ela tivesse dito que não só odiava os filhos como planejava sacrificá-los como uma mãe de tragédia grega. Pior: como se ela já os tivesse assassinado. Programas de televisão a crucificaram; até ameaças do tipo eu-sei-onde-você-mora ela recebeu. Durou dois anos o calvário de Ayelet Waldman.

Depois de estrepitosamente vaiada pela plateia do programa da Oprah Winfrey quando ainda maquiava para entrar em cena, Ayelet decidiu escrever um livro. Não podia ter outro título: Bad Mother. Afinal acrescido de um subtítulo tão longo quanto irônico: Lembra Quando Ayelet Waldman Foi ao Show da Oprah e não Tinha um Livro para Caitituar? Lembra? Lembra? Agora Ela Tem. É um balanço da sórdida campanha que lhe moveram e um retrato autobiográfico 'de uma franqueza sem limites', na opinião de um comentarista do Washington Post. De lambuja, um documento sobre a hipocrisia americana e o excessivo valor que à maternidade se dá no mundo inteiro.

Foi no sentido de incompetente, inapetente e negligente, e não de má, parente de perversa e cruel, que Ayelet usou a palavra 'bad'. Deixara um emprego de defensora pública para assumir todas as funções ditas maternais, mas um dia se encheu de ficar empurrando o balanço da filha mais nova e ouvindo as conversas fiadas das outras mommies e, incentivada pelo marido, que só escreve à noite e tem o dia inteiro para cuidar das crianças, trocou o playground pelo computador e a atividade literária.Como não admirar uma mãe tão sincera e honesta, com os filhos e consigo mesma?

Como não admirar uma mulher que contraria o figurino piegas da 'dona de tudo', da 'rainha do lar, com o avental todo sujo de ovo'? Ayelet não acredita que toda e qualquer mãe valha mais que o céu, a terra e o mar, nem que 'mother' seja a palavra mais linda que o poeta escreveu."

Esse texto saiu do "Estado de São Paulo" de ontem, escrito pelo Sérgio Augusto, e nós concordamos com a Ayelet: ser mãe é opção, não destino. Quer saber mais: visite o www.malvadas.com.br. Fizemos um especial sobre o Dia das Mães.

2 comentários:

  1. Caramba... não sabia disso... ¬¬

    Não gosto destes pré-julgamentos. Ora, deixem a mulher escrever o que ela quiser. Mania que o povo tem de seguir padrões, de exigir que cartilhas sejam obedecidas... Saco, viu?

    Gostei da tua forma de escrever.

    Beijo.

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