terça-feira, 26 de março de 2013

Estante de Pandora - A Máscara da Morte Escarlate

A ficção é generosa com aqueles que chegam sem convite: entradas teatrais, figurinos impecáveis e palavras fatais são as características dos indesejados*. “A figura era alta e esquálida, envolta dos pés a cabeça em vestes mortuárias. A máscara que escondia o rosto procurava assemelhar-se de tal forma com a expressão enrijecida de um cadáver que até mesmo o exame mais atento teria dificuldade em descobrir o engano. [...] Seu vestuário estava borrifado de sangue e sua alta testa, assim como o restante do rosto, salpicada com o horror escarlate”.

Essa indesejada se apresenta além dos limites do decoro da platéia pervertida que a vê chegar. Anunciada a cada sessenta minutos (“três mil e seiscentos segundos do Tempo que voa”) por um parceiro tão sombrio quanto preciso, a dama instala no coração dos convivas a inquietação e o medo.

A festa – em celebração à vida? à mentira? ao esquecimento? – acontece em seis salões primorosamente decorados. O sétimo salão, em que a dama faz sua entrada e onde se encontra seu predecessor – o relógio – não atrai os convidados: “coberto por tapeçarias de veludo negro, que pendiam do teto e pelas paredes, caindo em pesadas dobras sobre um tapete do mesmo material e tonalidade. Apenas nesse salão, porém, a cor das janelas deixava de corresponder à das decorações. As vidraças, ali, eram escarlates – uma violenta cor de sangue. [...] poucos no grupo sentiam ousadia bastante para ali penetrar”.

Nesse cenário, a Morte Escarlate desafia a arrogância do Príncipe Próspero e abate primeiro o anfitrião e depois, um a um, seus convidados.

Quem avisa os indesejados sobre as festas a que não foram convidados?
Talvez não seja possível evitar algumas presenças.

Talvez o relógio que hora a hora força os músicos a parar, empalidece os mais alegres e torna reflexivos os idosos esteja repetindo: “memento mori”, “memento mori”...

Talvez tenhamos que aceitar que não é possível isolar o mal, porque ele está no homem e, ignorado, é questão de tempo até que “o ilimitado poder da Treva, da Ruína e da Morte Escarlate” domine tudo.

“A máscara da morte escarlate” ou “A máscara da morte rubra”, conto de Edgar Allan Poe, deu origem a este texto. Você pode lê-lo em: 


A Máscara de Morte Rubra foi levada às telas em 1991, sob a direção de Alan Birkinshaw, que já filmara anteriormente “A casa de Usher”, baseado em outro conto de Poe. No elenco de “The Masque Of The Red Death” está Frank Stallone, irmão de Sylvester Stallone.

A banda de heavy metal Iron Maiden também prestou sua homenagem à dama escarlate na música “Dance of Death”.





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